segunda-feira, 7 de maio de 2018

Décima Sexta Aula!

Aula na qual, semelhantemente à aula anterior, procurou-se os possíveis significados que emergem da obra de Saint-Exupéry.

Durante a leitura, ocorreu um estranhamento, qual seja, o do porquê de o autor trazer à narrativa o sutil detalhe de o "acendedor de lampiões" ter secado o suor da testa em um lenço de "losangos vermelhos", como segue:

"E apagou o lampião. Em seguida enxugou a testa com um  lenço de losangos vermelhos".

O professor chamou a atenção para o fato de que o autor francês não escrevia por acaso, e que, nos detalhes, poderiam haver grandes mensagens a serem decifradas.

Então, professores e alunos passaram a se perguntar sobre o porquê dos losangos e sobre o porquê do vermelho. Um dos estudantes chamou a atenção para o fato de que, no baralho, no jogo de cartas, há um "naipe" que é representado por losangos, o de "ouros". Diante disso, o professor falou que as cartas, independentemente do "naipe", representam ou "valem" números. Então, os alunos colocaram que há cartas que representam pessoas; o rei, a dama, o valete

Neste momento, o professor complementou que, nestas mesmas cartas, o "valete" representa, por assim dizer, a "carta humana" de menor valor, pois é um serviçal; foi explicado que o termo valete, significa isso, um empregado masculino...

Deste modo, neste caso, a descrição do "acendedor de lampiões" fez mais sentido.

Seria uma explicação possível?

Neste ponto, o professor chamou a atenção para a questão da tradução do livro... Chamou a atenção para esta problemática, qual seja, a de que é sempre complicado e tarefa árdua, que necessita de extremo rigor, a de se traduzir uma obra literária... 

No caso da obra lida, apesar de "O Pequeno Príncipe" ter sido escrito originalmente em francês, ele foi publicado pela primeira vez em inglês, em Nova York, em 1943; apesar da quase simultânea publicação, também em francês... 

Então, temos aqui, explicou o professor aos seus alunos, já um problema: uma obra pensada e escrita em francês, mas editada e publicada em inglês...

Neste momento, os alunos passaram a procurar, nas edições de que dispunham em suas mãos, para fazer a comparação.

Ocorre que, na edição traduzida por Dom Marcos Barbosa, que é baseada na edição francesa, de 1945, os termos usados são "losangos vermelhos", já as outras edições trazem termos diversos. Mas uma observação é importante: mesmo as edições da editora "Agir", com tradução de Dom Marcos Barbosa, trazem diferenças entre si, conforme a data, edição e impressão, abaixo:

- 2003 (1ª edição), traz os termos "losangos vermelhos"

- 2006 (48ª edição/ 24ª impressão ("edição revista")), ainda traz o termos "losangos vermelhos"

- 2006 (48ª edição/ 27ª impressão ("edição revista")), preserva os termos "losangos vermelhos", mas:

- 2009 (48ª edição/ 43ª impressão ("texto estabelecido segundo o acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor desde 2009")), traz os termos "xadrez vermelhos", e:

- 2009 (48ª edição/ 55ª impressão ("texto estabelecido segundo o acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor desde 2009")), mantém, diferentemente das três primeiras acima, os termos "xadrez vermelhos"

O livro da editora "Vozes", de 2016, tradução de Rodrigo Tadeu Gonçalves, também traz os termos "xadrez vermelhos"; o da editora "Discovery Publicações" que, conforme a "Cia. dos Livros", é de 2016, mas que não apresenta data, diferentemente de todos os outros, traz os termos "quadrados vermelhos"; o livro da editora "Pocket Ouro", que não tem data, traduzido também por Dom Marcos Barbosa, traz os termos "losangos vermelhos"; o da editora "Nova Fronteira", de 2006, tradução de Dom Marcos Barbosa, 48ª edição/ 41ª impressão ("texto estabelecido segundo o acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor desde 2009")), seguindo a tendência dos dois últimos da editora "Agir", acima, traz os termos "xadrez vermelho"; o da editora "Escala", 1ª edição e tradução de Ruy Pereira, de 2015, traz o termo "quadrados vermelhos"; o da editora "L&PM Pocket", finalmente, de 2017, tradução de Ivone C. Benedetti, traz os termos "xadrez vermelho".

A edição francesa do livro, por sua vez, na língua original do autor, portanto, de 1943, traz a seguinte fase:

"Puis il s’épongea le front avec un mouchoir à carreaux rouges."

Que seria melhor traduzida por:

Depois enxugou a testa com um lenço xadrez vermelho.

No entanto, a edição lançada em 1943, em inglês, traz a seguinte frase:


"Then he mopped his forehead with a handkerchief decorated with red squares."

Que seria melhor traduzida, por:

"Então ele enxugou a testa com um lenço decorado com quadrados vermelhos."

Assim, embora subsista a dúvida quanto a semântica pretendida por Saint-Exupéry, tem-se que a tradução de Dom Marcos Barbosa é ainda a que se utiliza da "norma culta", da linguagem mais erudita de todas as edições acima analisadas.

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